Líderes se encontraram na Malásia para cúpula da Asean e discutiram relações comerciais e temas políticos delicados
Em Kuala Lumpur, Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva debateram tarifas, mas o ex-presidente americano também expressou preocupação com as medidas judiciais contra Jair Bolsonaro.
Donald Trump sinalizou que as tarifas impostas ao Brasil podem ser negociadas com celeridade, durante um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Kuala Lumpur, Malásia, na tarde deste domingo (26) no horário local. A reunião, que ocorreu à margem da cúpula da Asean, permaneceu fora da agenda oficial da presidência brasileira. Essa medida visava evitar possíveis constrangimentos caso houvesse algum imprevisto, destacando a cautela do governo diante da imprevisibilidade percebida do líder americano.
No diálogo com jornalistas antes do encontro, Trump expressou simpatia por Jair Bolsonaro e manifestou incômodo com as medidas judiciais contra o ex-presidente. Contudo, fontes do governo brasileiro indicaram que, durante a conversa, Lula abordou brevemente o tema, ressaltando que Bolsonaro foi submetido ao sistema judiciário do país, um órgão independente. A escolha por um país terceiro para o encontro refletia o receio de que uma visita a Washington pudesse expor Lula a uma situação desfavorável, temendo-se uma possível “emboscada” similar àquelas relatadas com outros líderes europeus.
A apreensão em torno da reunião foi intensificada por declarações prévias de Lula durante sua viagem pela Ásia. Em Jacarta, Indonésia, o presidente brasileiro havia tocado em assuntos sensíveis para os americanos, como a situação da Venezuela, e criticou o protecionismo sem mencionar nominalmente o então presidente dos EUA. Em uma ocasião, Lula chegou a afirmar que traficantes seriam “vítimas” de usuários de drogas, em uma aparente referência a ações americanas contra embarcações venezuelanas.
Após o encontro, Trump reiterou a possibilidade de reduzir as tarifas brasileiras “sob certas circunstâncias”. Paralelamente, um representante governamental americano, em contato com a imprensa, enfatizou que seria mais vantajoso para o Brasil, a longo prazo, fortalecer sua parceria comercial com os Estados Unidos em detrês da China. O secretário de Estado, por sua vez, ligou as negociações a questões políticas, como o tratamento de juízes brasileiros e aspectos do setor digital envolvendo indivíduos nos Estados Unidos e postagens em redes sociais.
As autoridades americanas sinalizaram que a resolução dessas questões políticas é um passo necessário para um acordo, e que tal processo “levará algum tempo” para ser concluído. A complexidade dos temas abordados sublinha a natureza multifacetada das relações bilaterais entre os dois países.

