Auditoria aponta movimentações atípicas e indícios de uso indevido de CPFs, levando a investigações e exigência de plano antifraude.
O TCU revelou que beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3,7 bilhões para apostas online em um mês, levantando suspeitas de fraude e uso indevido de CPFs.
Um relatório recente do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que beneficiários do programa Bolsa Família transferiram impressionantes R$ 3,7 bilhões para sites de apostas online em apenas um mês, especificamente em janeiro de 2025. A auditoria aponta indícios de uso irregular de CPFs e movimentações financeiras que destoam significativamente do perfil socioeconômico dos participantes do programa de transferência de renda.
A investigação do TCU constatou que 22% dos beneficiários, o equivalente a 4,4 milhões de famílias de um total de 20,3 milhões, efetuaram transferências para casas de apostas. Contudo, a análise detalhada mostrou uma concentração extrema: apenas 4,4% dessas famílias, ou 889 mil, foram responsáveis por 78% do volume total de dinheiro movimentado.
O tribunal ressalta que 83% dos beneficiários possuem outras fontes de renda além do Bolsa Família, indicando que nem todo o valor apostado provém diretamente do benefício.
Casos de movimentações financeiras incompatíveis com o perfil do programa foram identificados, gerando sérias suspeitas. Uma única família chegou a transferir R$ 2,1 milhões em um mês, enquanto outros CPFs registraram transferências de até R$ 2 milhões. Além disso, 663 famílias movimentaram valores entre R$ 100 mil e R$ 1,4 milhão. Esses padrões levantaram a suspeita de uso indevido de CPFs de beneficiários para ocultação de recursos ilícitos, o que configura um grave problema de segurança e integridade do programa.
Impacto no Benefício e Ações Governamentais
Em relação ao impacto direto sobre o benefício, o TCU estimou que R$ 162 milhões, ou 1,1% do valor total do Bolsa Família, foram comprometidos com apostas após a exclusão de outras fontes de renda. O relatório também identificou que 267 mil famílias movimentaram mais de R$ 2.400, um valor considerado incompatível com os critérios de elegibilidade do programa.
Sobre o retorno financeiro das apostas, o Banco Central estima que 85% do dinheiro apostado retorna ao jogador, enquanto a Secretaria de Prêmios e Apostas aponta um percentual entre 93% e 94%.
Diante das descobertas, o TCU encaminhou as movimentações suspeitas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), à Receita Federal e ao Ministério Público Federal para aprofundadas investigações. Adicionalmente, o tribunal determinou que o Ministério do Desenvolvimento Social e o Banco Central apresentem, em até 90 dias, um plano concreto para detectar e coibir fraudes e irregularidades no programa Bolsa Família, visando proteger os recursos públicos e os beneficiários legítimos.
