Análise aponta que a crise fiscal brasileira é sistêmica, marcada por complexidade tributária, captura do Estado e ineficiência na gestão pública.
A crise fiscal brasileira é sistêmica, marcada por complexidade tributária e ineficiência. Especialistas alertam para urgência de reformas estruturais para evitar colapso.
A crise fiscal do Brasil é mais do que uma questão de números; é um problema de complexidade sistêmica e captura do Estado por interesses próprios. Com mais de 90 tipos de tributos, o sistema consome anualmente cerca de 2.600 horas das empresas, um contraste gritante com a média global de 200 horas.
Essa burocracia excessiva impõe um imposto invisível sobre a produtividade e a inovação, sufocando o ambiente de negócios e a capacidade de crescimento do país.
Quase metade do orçamento federal é destinada à folha de pagamento e aposentadorias, criando um sistema onde qualquer tentativa de reforma atinge diretamente quem teria de aprová-la. Além disso, o Estado tem sido capturado por setores privados de interesse. Um exemplo notório é o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE), que, criado como medida temporária na pandemia, foi estendido até 2027, gerando uma renúncia fiscal superior a R$ 20 bilhões. Enquanto isso, pequenas e médias empresas arcam com algumas das maiores alíquotas do mundo.
O Contraste entre Gestão e Ineficiência
Essa disfunção econômica se manifesta na sobrevivência de empresas “zumbis” sustentadas por subsídios, enquanto a inovação genuína é sufocada pela falta de liberdade para errar. A saída de profissionais qualificados agrava a situação, levando consigo anos de produtividade e impostos futuros.
Em contraste, a gestão profissional em São Paulo transformou um déficit de R$ 10 bilhões em 2018 em superávits consecutivos, alcançando R$ 11,5 bilhões em 2023, o maior da história do estado, com contas equilibradas e investimentos em infraestrutura.
Em contrapartida, os 17 anos de poder federal do Partido dos Trabalhadores (PT) são associados a um rombo fiscal crescente, uma dívida pública de R$ 9,4 trilhões e uma máquina pública inchada. Essa disparidade não é uma coincidência, mas um reflexo da diferença entre competência e fracasso sistêmico.
O modelo de governança atual se esgotou, e a reorganização do tabuleiro político para 2026/2027 já está em curso.
A questão central não é se haverá mudança em 2026, mas se essa mudança trará uma reforma real ou apenas uma troca de rostos que perpetua o modelo disfuncional. As medidas necessárias, como o corte de privilégios, a reforma administrativa e o ajuste fiscal, contradizem décadas de narrativa política e são difíceis de serem implementadas por quem construiu essa história.
Quem assumir em 2027 herdará um país em regime de dominância fiscal, sem espaço para gradualismo. Será essencial um choque de credibilidade, com total apoio do Congresso, para implementar medidas duras e estruturais.
O modelo Temer-Meirelles, entre 2016 e 2018, demonstrou como a simples sinalização de responsabilidade fiscal pode restaurar a confiança dos mercados. No entanto, a janela para essas reformas será curta, e o custo do fracasso, irreversível.
Adiar a crise apenas aumenta exponencialmente o seu custo futuro.

