Levantamento do DataSUS aponta crescimento de diagnósticos de câncer em pessoas com até 50 anos; especialistas alertam para a necessidade de rastreamento precoce e mudanças nos hábitos de vida.
Levantamento do DataSUS revela aumento de 84% nos diagnósticos de câncer em jovens adultos no SUS entre 2013 e 2024. Tumores de mama, colorretal e fígado estão entre os que mais crescem.
O número de diagnósticos de câncer em pessoas com até 50 anos cresceu 84% no Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2013 e 2024, conforme um levantamento do DataSUS. A operadora de caixa Jaqueline Chagas, diagnosticada com carcinoma grau 3, é um dos casos que ilustram essa tendência crescente.
Os tumores de mama, colorretal e fígado estão entre os que mais crescem nessa faixa etária. O câncer de mama lidera os diagnósticos, com alta de 45% entre 2013 e 2024 e mais de 22 mil novos casos anuais de mulheres de até 50 anos registrados no SUS. Jaqueline descobriu o diagnóstico durante uma mamografia de urgência, no Rio de Janeiro.
Aos 46 anos, Jaqueline passou por oito sessões de quimioterapia, uma mastectomia radical e enfrentou complicações graves durante o tratamento no Instituto Nacional do Câncer (INCA). Na sexta quimio, ela teve neutropenia e sepse, uma infecção generalizada grave que, segundo os médicos, poderia ser fatal.
A maioria dos pacientes com diagnóstico precoce é atendida pela rede pública, onde estão concentrados os registros: 75% da população é atendida pelo SUS. Especialistas ouvidos em investigação jornalística alertam que o problema é ainda maior do que as estatísticas mostram, já que o Brasil não tem dados completos da saúde suplementar, e parte expressiva dos casos pode estar oculta nos planos privados, sem notificação oficial.
Entre os tumores que mais crescem na faixa de até 50 anos, o colorretal é um dos que mais preocupam os médicos. De acordo com dados do DataSUS, os diagnósticos passaram de 1.947 em 2013 para 5.064 em 2024, um crescimento de 160% no período.
Os médicos observam uma mudança geracional no padrão de risco, com fatores cotidianos como alimentação rápida, estresse, sobrepeso e noites mal dormidas influenciando o aparecimento da doença mais cedo. A obesidade, por exemplo, funciona como um órgão inflamatório, produzindo substâncias que desregulam hormônios e estimulam o crescimento de células defeituosas.
Sumara Abdo, médica nuclear pelo INCA, reforça que o sistema ainda não está preparado para diagnosticar precocemente pacientes jovens. Ela defende a inclusão de pacientes jovens em programas de prevenção e diagnóstico precoce, com foco em histórico familiar, obesidade e sintomas persistentes.
Entre as principais medidas preventivas estão manter alimentação rica em fibras, frutas e vegetais; reduzir o consumo de ultraprocessados e bebidas alcoólicas; praticar atividade física regularmente; e fazer exames de imagem ou endoscópicos conforme orientação médica.
Jaqueline, ao se recuperar, criou um grupo nas redes sociais chamado Unidas, onde mais de 500 mulheres com câncer de mama trocam experiências. Um estudo publicado na revista científica Nature Medicine (2022) mostra que a incidência de câncer em pessoas com menos de 50 anos vem crescendo em todos os continentes, especialmente em países urbanizados e de renda média.