Socorro Loura, voz tradicional do mercado, alerta para o impacto das obras e fiscalizações no sustento de famílias e na cultura local.
Socorro Loura, feirante do Ver-o-Peso, denuncia 'isolamento e perseguição' aos trabalhadores tradicionais de Belém durante preparativos da COP30, afetando sustento e cultura local.
A feirante Socorro Loura, de 64 anos, uma das vozes mais conhecidas do tradicional Mercado Ver-o-Peso, em Belém, fez um apelo emocionado em vídeo, denunciando o que classifica como “isolamento e perseguição” aos trabalhadores do espaço. A queixa surge em meio aos preparativos para a COP30, que será realizada na capital paraense, e aponta para o impacto das obras e ações de limpeza e fiscalização no sustento de dezenas de famílias que dependem do mercado há décadas.
Socorro Loura, que se identifica como uma das 80 erveiras que compõem a cultura de Belém, enfatizou a importância do Ver-o-Peso como um símbolo internacional da cidade. “Essa feira é o postal dos turistas. Lá fora, na Europa, o pessoal conhece o banho, o alguidar, o cheiro da nossa cultura. Aí agora querem tirar a gente, esconder a gente como se fosse sujeira?”, questionou a feirante, expressando sua indignação com a possibilidade de serem removidos ou marginalizados em nome de reformas de “fachada”.
O Impacto nas Vendas e o Apelo por Respeito
A feirante detalhou o drama financeiro que as intervenções têm causado. Segundo ela, as obras prejudicaram severamente as vendas, deixando muitos sem renda para cobrir despesas básicas.
“Essa obra afundou nós. Temos luz pra pagar, conta de loja, cartão, e ficamos isoladas, sem vender.
A gente precisa de ajuda, de empréstimo pra comprar material”, afirmou Socorro, ressaltando o alto custo de produtos essenciais como copaíba e andiroba, que são a base de seu trabalho.
Em seu desabafo, Socorro Loura fez um apelo direto às autoridades — prefeito, governador e presidente Lula — para que olhem com respeito para as trabalhadoras que mantêm viva a tradição do Ver-o-Peso. Ela compartilhou sua história pessoal, lembrando que criou quatro filhos e uma filha adotiva com o trabalho na barraca, todos formados.
Exibindo medalhas e prêmios, ela destacou seu orgulho em representar o Ver-o-Peso, que para ela é “a cultura mais famosa de Belém”, passada de sua bisavó, que foi escrava.
O Mercado Ver-o-Peso, um dos maiores cartões-postais da capital paraense, é um caldeirão de cultura, tradições e saberes ancestrais. As bancas de ervas, óleos e perfumes, com suas promessas de cura e atração, são um dos maiores atrativos para turistas e moradores.
A naturalidade com que as vendedoras, como Socorro, explicam os usos dos produtos, revela a autenticidade e a riqueza cultural do local.
Até o fechamento desta reportagem, a Prefeitura de Belém não havia se manifestado publicamente sobre as declarações de Socorro Loura e as denúncias de perseguição aos trabalhadores do Ver-o-Peso, deixando em aberto o diálogo sobre o futuro desses profissionais e a preservação da identidade cultural do mercado durante a preparação para a COP30.

