Levantamento da CNC revela que quase 80% das famílias estão endividadas, com impacto esperado nas vendas de Black Friday e Natal.
O endividamento dos brasileiros atingiu um recorde histórico em outubro, com 79,5% das famílias com dívidas, impactando as vendas de fim de ano.
O endividamento das famílias brasileiras atingiu um patamar recorde em outubro, marcando o terceiro mês consecutivo de alta. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a proporção de famílias com dívidas subiu para 79,5%.
Este é o maior nível registrado desde o início da série histórica da pesquisa, em 2010, acendendo um alerta sobre a saúde financeira dos consumidores no país.
A situação é agravada pelo fato de que a fatia de famílias inadimplentes se manteve em 30,5% em outubro, repetindo o ápice histórico já alcançado em setembro. Ainda mais preocupante é o recorde de 13,2% das famílias brasileiras que declararam não ter condições de quitar suas dívidas em atraso, indicando uma persistência na inadimplência. A CNC já projeta que esse cenário terá um impacto significativo nas vendas do comércio durante a Black Friday e as festividades de Natal.
A Necessidade de Ajustes Fiscais Urgentes
Para José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, a simultaneidade do avanço no endividamento, na inadimplência e na percepção de insuficiência financeira por três meses consecutivos é um claro sinal de alerta. “É fundamental a necessidade de ajustes, principalmente na área fiscal, para que os resultados de 2025 não se repitam ou se agravem ainda mais em 2026”, avaliou Tadros em nota, sublinhando a urgência de medidas corretivas.
A Peic considera como dívidas diversas modalidades de crédito, incluindo cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa. A análise detalhada dos dados revela que a proporção de famílias com contas em atraso por mais de 90 dias avançou a 49,0% em outubro, atingindo um patamar preocupante.
Houve ainda um aumento, pelo segundo mês consecutivo, no percentual de famílias comprometidas com dívidas por mais de um ano, que chegou a 32,0%. Adicionalmente, a fatia de consumidores que têm mais da metade dos seus rendimentos comprometidos com dívidas também cresceu pelo segundo mês seguido, alcançando 19,1%.
O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, ressaltou que nem mesmo o bom momento do mercado de trabalho tem sido suficiente para conter o avanço da inadimplência, atribuindo a situação ao elevado patamar dos juros. “Nesse cenário, o comércio já sente desaceleração das vendas, uma vez que as famílias se veem obrigadas a promover ajustes no orçamento para se adaptar a essa realidade”, explicou Bentes.
A CNC projeta um aumento de 3,3 pontos percentuais no endividamento até o final deste ano em comparação com o patamar de 2024, enquanto a inadimplência deve subir 1,5 ponto percentual. Esses dados reforçam a urgência de políticas que busquem equilibrar a saúde financeira dos consumidores e o dinamismo do mercado.

