Assessor especial da Presidência alerta para o perigo de uma escalada militar na região, citando o risco de refugiados e a desestabilização continental em meio às ações dos EUA e críticas da ONU.
Celso Amorim, assessor da Presidência, alertou que uma intervenção externa na Venezuela pode 'incendiar' a América do Sul. Ele citou tensões com os EUA e o risco de crise migratória na região.
O assessor especial da Presidência, Celso Amorim, advertiu na última sexta-feira (24) que uma intervenção estrangeira na Venezuela pode desestabilizar severamente a América do Sul, levantando preocupações sobre a escalada das tensões na região.
A escalada se manifesta em ações militares intensificadas pelos Estados Unidos, que desde agosto mobilizaram uma significativa presença no mar do Caribe. Essa força inclui destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarinho nuclear e cerca de 6,5 mil militares. As operações, que já resultaram em bombardeios a dez embarcações no Caribe e no Oceano Pacífico desde 2 de setembro, foram justificadas pelo governo americano como parte do combate ao tráfico de drogas. No entanto, dados de um relatório mundial sobre drogas da ONU, referente a 2025, indicam que o fentanil, principal causa de overdoses nos EUA, provém do México, e não da Venezuela, pondo em xeque a alegação.
Paralelamente, Washington designou cartéis sul-americanos como organizações terroristas e acusou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de liderar o Cartel de Los Soles, oferecendo uma recompensa de US$ 50 milhões por sua captura. Em resposta, o governo venezuelano condenou veementemente os ataques, interpretando-os como uma tentativa de mudança de regime e apropriação de seus recursos petrolíferos. Maduro, por sua vez, fez apelos internacionais na quinta-feira (23) por paz, clamando por “no crazy war, please” diante das ações americanas.
Amorim enfatizou que uma eventual ação militar poderia desencadear sérios “problemas concretos de refugiados”, afetando países vizinhos como Brasil e Colômbia. As ofensivas americanas também enfrentaram críticas de um grupo independente de especialistas da ONU, que na terça-feira (21) classificou os bombardeios como violações do direito internacional e execuções extrajudiciais. Segundo o grupo, tais atos desrespeitam a soberania venezuelana e as obrigações fundamentais dos EUA de não intervir em assuntos internos ou ameaçar o uso da força contra outras nações.
O presidente dos EUA, por sua vez, reiterou na quinta-feira a intenção de realizar ações militares em terra contra cartéis, sem citar diretamente a Venezuela, e afirmou que não precisaria de declaração de guerra do Congresso para prosseguir. Ele justificou as operações alegando que 300 mil pessoas morrem anualmente nos EUA por problemas relacionados a drogas. No cenário diplomático, Lula expressou nesta sexta-feira sua discordância com a justificativa dos ataques e apontou uma “falta de compreensão” de política internacional por parte de Trump, enquanto Amorim indicou que o presidente brasileiro evitará “dar lições” ao homólogo americano em um possível encontro.

