Carlos Nobre destaca que o bioma enfrenta degradação irreversível, com impactos climáticos e ecológicos que se estendem por todo o continente.
A Amazônia está perto de um ponto crítico de degradação, alerta o pesquisador Carlos Nobre. Mudanças irreversíveis podem afetar o clima do continente.
O renomado meteorologista e pesquisador Carlos Nobre, pioneiro nos estudos sobre a savanização da Amazônia, emitiu um alerta contundente: o bioma está perigosamente próximo de atingir um ponto crítico de degradação ambiental, cujas consequências podem ser irreversíveis. Em entrevista ao CNN Novo Dia, Nobre enfatizou que a floresta, vital para o equilíbrio climático global, corre o risco de passar por transformações drásticas que alterariam sua essência e funcionalidade.
As evidências que sustentam essa preocupação são fruto de 26 anos de pesquisa aprofundada. Uma vasta área de 2,5 milhões de quilômetros quadrados, que abrange o sul do Pará, norte do Mato Grosso, sul do Amazonas, Acre, Rondônia e Bolívia, já exibe alterações significativas.
Segundo o especialista, a estação seca nessas regiões está prolongada em 3 a 4 semanas, com índices de umidade 20% a 30% mais baixos e temperaturas que chegam a ser 3 graus Celsius mais elevadas do que o normal. Esses indicadores apontam para uma transição perigosa no regime hídrico e térmico da floresta.
Caso o ponto de não retorno seja efetivamente ultrapassado, as projeções de Nobre são alarmantes: entre 30 e 50 anos, estima-se que cerca de 70% da floresta amazônica possa ser perdida. A Amazônia, que ao longo de milhões de anos desenvolveu mecanismos únicos de estabilidade climática e absorveu mais de 150 bilhões de toneladas de carbono, veria sua capacidade de regulação climática severamente comprometida, liberando grandes quantidades de gases de efeito estufa e acelerando o aquecimento global.
O Compromisso dos “Rios Voadores”
Um dos aspectos mais críticos dessa degradação é o comprometimento do sistema de reciclagem de água da floresta, conhecido como “rios voadores”. Este mecanismo é responsável por uma parcela significativa, cerca de 45%, do vapor d’água que entra na bacia amazônica vindo do Oceano Atlântico.
Sua alteração tem um impacto direto e profundo no regime de chuvas em diversas regiões do continente.
A influência dos “rios voadores” se estende muito além das fronteiras amazônicas. Eles são cruciais para 40% a 50% das chuvas no Cerrado e contribuem com 30% a 35% das precipitações na região que engloba o sul do Brasil, Uruguai, Paraguai e norte da Argentina.
Além disso, a Amazônia é o lar da maior biodiversidade do planeta, um resultado de milhões de anos de evolução biológica e ecológica que está sob ameaça iminente. A urgência de ações para proteger este ecossistema vital é inegável, dada sua importância para o clima global e a vida na Terra.

