Fenômeno geotérmico no Peru, conhecido como Shanay-timpishka, é estudado por cientistas para compreender os impactos do aquecimento global e a resiliência da vegetação amazônica.
Rio Shanay-timpishka, na Amazônia peruana, ferve a mais de 90ºC, cozinhando animais. Cientistas o estudam para entender os efeitos do calor extremo e o aquecimento global.
No coração da Amazônia peruana, um fenômeno natural desafia a lógica e impressiona cientistas: o rio Shanay-timpishka, cujo nome indígena significa “fervido pelo calor do sol”, atinge temperaturas que podem ultrapassar os 90ºC. Este curso d’água único é tão quente que é capaz de cozinhar animais vivos que, porventura, caiam em suas águas, tornando-se uma maravilha perigosa e um objeto de intenso estudo científico.
Apesar do nome, a explicação para a ebulição das águas não reside no sol, mas sim em complexas falhas geológicas. A água subterrânea, aquecida pelas profundezas da Terra, emerge à superfície através dessas fissuras, criando um rio com características térmicas extremas.
O geocientista peruano Andrés Ruzo, um dos principais pesquisadores do local, já registrou temperaturas próximas aos 100ºC, alertando para o perigo iminente. Conforme Ruzo descreve, o contato com a água pode causar queimaduras de segundo ou terceiro grau em questão de segundos.
Os animais que inadvertidamente caem no Shanay-timpishka enfrentam um destino cruel e rápido. Segundo relatos de Ruzo, os efeitos são imediatos: “A primeira coisa a se perder são os olhos. Eles ficam com uma cor branco-leitosa. Eles tentam nadar para fora, mas a carne vai cozinhando nos ossos porque está muito quente.” A intensidade do calor é tamanha que a chance de sobrevivência é praticamente nula, transformando o rio em uma armadilha mortal natural.
Shanay-timpishka: Laboratório Natural para o Clima
Em 2024, uma equipe multidisciplinar de cientistas dos Estados Unidos e do Peru instalou sensores no rio por um ano para monitorar as temperaturas do ar e da água. As medições revelaram que, enquanto áreas mais amenas registravam médias de 24ºC, as zonas mais quentes próximas ao rio chegavam a quase 45ºC no ar.
Além disso, a análise da vegetação nas florestas adjacentes demonstrou um padrão claro: quanto mais quente a área, menor a diversidade de plantas, com algumas espécies desaparecendo completamente e outras, mais adaptadas, tornando-se predominantes. A vegetação nessas áreas apresentava um aspecto visivelmente mais seco, mesmo em um ambiente úmido.
Os pesquisadores veem o Shanay-timpishka como um laboratório natural crucial para entender os efeitos do aquecimento global. A vegetação ao redor do rio exibe sinais inequívocos de estresse térmico, oferecendo insights sobre como a Amazônia pode reagir a um futuro com temperaturas elevadas e períodos de seca.
Espécies resistentes, como a imponente Ceiba, conseguem sobreviver, enquanto outras, como a Guarea grandifolia, sucumbem ao calor extremo. Esse cenário permite aos cientistas prever a resiliência e as vulnerabilidades da flora amazônica diante das mudanças climáticas.
Além de seu valor científico, o Shanay-timpishka possui um profundo significado cultural para as comunidades amazônicas, sendo considerado um local sagrado. A proteção da floresta e de seus fenômenos únicos, como este rio fervente, transcende o âmbito local, impactando diretamente o clima global.
Especialistas alertam que a perda da Amazônia liberaria vastas quantidades de carbono na atmosfera, afetando o clima em escala planetária. Proteger o Shanay-timpishka e seu entorno é, portanto, proteger um pedaço vital do patrimônio natural e um indicador crucial para o futuro do nosso planeta.

