Peça milenar de cerâmica, encontrada perto do Muro das Lamentações, detalha relações fiscais entre o império assírio e o reino de Judá.
Arqueólogos da Autoridade de Antiguidades de Israel desvendaram um fragmento de cerâmica com uma antiga cobrança de imposto assírio, corroborando relatos bíblicos.
A Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) anunciou neste mês a descoberta de um fragmento de cerâmica que revela uma antiga cobrança de imposto, enviada ao rei de Judá há cerca de 2.700 anos, em Jerusalém. Esta peça milenar, encontrada no Parque Arqueológico de Davidson, próximo ao Muro das Lamentações, oferece uma visão inédita das relações políticas e fiscais entre o reino de Judá e o império assírio.
Medindo apenas 2,5 centímetros, o artefato contém uma inscrição em cuneiforme na língua acadiana. De acordo com os pesquisadores, o texto detalha um aviso sobre atrasos no pagamento de tributos e faz referência ao “primeiro dia do mês de Av”, um termo do calendário mesopotâmico. A mensagem também menciona um oficial assírio, encarregado da comunicação com os reinos vassalos, o que sugere que o fragmento fazia parte de um selo de argila utilizado para autenticar ordens da corte assíria.
O assiriólogo Peter Zilberg, da Universidade Bar-Ilan, indicou que a peça foi enviada pelo império assírio diretamente ao rei de Judá. A época da inscrição, século 7 a.C., coincide com os reinados de Ezequias, Manassés ou Josias, um período historicamente marcado por grandes tensões decorrentes da dominação assíria e suas exigências tributárias, conforme também registrado em documentos antigos. Testes laboratoriais revelaram que a argila utilizada não é de origem israelense, mas sim da região do rio Tigre, onde se localizavam capitais assírias como Nínive e Assur, indicando que a comunicação percorreu longas distâncias até chegar a Jerusalém.
Ayala Silberstein, que dirige as escavações pela IAA, enfatizou que a descoberta é crucial para aprofundar o entendimento sobre as dinâmicas políticas e fiscais entre Jerusalém e o império que controlava a região naquele tempo. Especialistas afirmam que esta é a primeira evidência direta de comunicação assíria encontrada na cidade datada do período do Primeiro Templo. A peça corrobora a importância política de Jerusalém e a presença de autoridades internacionais na cidade durante o século 7 a.C. Zilberg descreveu o achado como “uma lanterna na névoa da história”, por lançar luz sobre detalhes pouco conhecidos da administração assíria sobre o reino de Judá.

