PUBLICIDADE

Escassez de trabalhadores desafia supermercados: vagas sobram, mas jovens evitam o setor

O setor de supermercados enfrenta uma escassez histórica de mão de obra, com milhares de vagas em aberto. Jovens rejeitam o modelo tradicional, buscando flexibilidade.

Setor busca alternativas como idosos, reservistas e automação para suprir milhares de postos de trabalho abertos em todo o país.

O setor de supermercados enfrenta uma escassez histórica de mão de obra, com milhares de vagas em aberto. Jovens rejeitam o modelo tradicional, buscando flexibilidade.

O setor de supermercados enfrenta uma crise de mão de obra sem precedentes em todo o país, com milhares de vagas em aberto que não encontram preenchimento. Este cenário desafiador marca uma transformação profunda no mercado de trabalho, onde o modelo tradicional de emprego no varejo perdeu seu apelo, especialmente entre as novas gerações.

Historicamente, o trabalho em supermercados servia como uma porta de entrada para o mercado formal, oferecendo a muitos brasileiros a chance de seu primeiro salário. Contudo, essa realidade mudou drasticamente. Conforme aponta o vice-presidente da Abras, Márcio Milan, e confirmado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), o perfil do trabalhador atual busca flexibilidade, propósito e liberdade de tempo, características que o setor, em seu formato convencional, raramente oferece.

Mesmo com mais de 350 mil postos de trabalho abertos em todo o Brasil, as contratações empacam. O desinteresse é acentuado pelos baixos salários; um operador de caixa, por exemplo, recebe em média R$ 1.600, um valor que mal cobre as despesas básicas em diversas capitais, onde o aluguel de um quarto simples pode ultrapassar R$ 900 e a cesta básica custa mais de R$ 430. Esta discrepância entre remuneração e custo de vida é um fator crucial para a rejeição das vagas.

Os impactos dessa escassez já são visíveis. Redes tradicionais, como o Hirota em São Paulo, enfrentaram dificuldades para preencher 80 vagas em uma nova unidade, enquanto a Oxxo chegou a adiar inaugurações por falta de equipe. Diante do que é chamado de “apagão” de mão de obra, as empresas estão buscando alternativas criativas para manter suas operações.

Uma das estratégias adotadas é o recrutamento de idosos, aposentados e reservistas do Exército, perfis que demonstram maior disciplina, pontualidade e resistência à rotina. O Carrefour, por exemplo, contratou 53 mil pessoas inscritas no CadÚnico em 2024, muitas delas famílias de baixa renda fora do mercado há anos, registrando menor rotatividade e maior comprometimento entre esses novos colaboradores.

A tecnologia também surge como um pilar essencial para contornar a crise. Plataformas de recrutamento rápido, como a ferramenta Helppi do Tauste, reduziram o tempo médio de contratação de 15 para 7 dias, otimizando o processo seletivo. Paralelamente, o uso de caixas de autoatendimento tem sido acelerado. O Pão de Açúcar já automatizou 90% de suas lojas, e o Hortifruti expandiu o modelo até para produtos pesáveis. Atualmente, o Brasil já conta com 8 mil unidades de self-checkout, segundo a consultoria RBR, e esse número continua a crescer.

Contudo, a especialista em RH Evelyn Rodrigues adverte que, apesar das inovações, a alta rotatividade persiste como um grande desafio. Ambientes de trabalho duros, pouco reconhecimento e a ausência de um plano de carreira claro são apontados como os principais motivos para a saída dos trabalhadores. Embora a automação ofereça uma saída temporária para a falta de pessoal, o setor corre o risco de desvalorizar permanentemente o trabalho humano, criando um ciclo vicioso de baixa motivação e desempenho. A crise de contratação nos supermercados é, em essência, um sintoma de uma transformação social mais ampla, onde a valorização do trabalho humano e a adaptação dos formatos de emprego são cruciais para a sustentabilidade e o futuro do setor.

Leia mais

Rolar para cima